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Reflexões de um Turista Educacional no Canadá

Atualizado: 14 de mai. de 2021

Visitas a escolas em Toronto e Montreal



Eduardo Gomes e Leonardo Gomes

Este é o relato de minha participação na sexta missão educacional do SINEPE-ES ao Canadá, onde visitamos escolas, escolas técnicas, universidades e conhecemos várias comunidades pelos entornos das cidades de Toronto e Montreal.

As visitas aconteceram em setembro de 2019, sempre entre 8h e 15h30. Imediatamente após as visitas, eu e meu irmão costumávamos realizar bons trajetos de bicicleta e a pé pelas vizinhanças das cidades visitadas. Fora e dentro das salas de aula, encontrei um Canadá de certa forma parecido com o nosso país, onde uma sociedade formada por um mosaico de diversos grupos étnicos e sociais convivia com problemas como a alta especulação imobiliária, moradores de rua, trânsito, entre outros problemas típicos de grandes cidades. Mas com muita sinceridade, o Canadá encontra-se num nível mais interessante de equilíbrio entre os mais ricos e os mais pobres do que a nossa sociedade brasileira.





Posso dizer que conheci um país com diversos problemas, porém, mais pragmático, equilibrado, com um povo mais participativo em termos coletivos e sociais, em poucas palavras: o Canadá é muito mais bem encaminhado em suas políticas de distribuição de renda, mais organizado em sua política educacional, com sólidos planos de avanço tecnológico e científico.


A proximidade que inconscientemente tentava estabelecer entre os dois países residia em nossa pouca idade, na capacidade de reinvenção enquanto pátrias recém formadas e na observância de certas deformidades sociais provenientes de nossas práticas colonialistas. A questão indígena, por exemplo, é tão precária lá quanto aqui, em suas bases e vontades políticas por parte da sociedade. Existe um embrião de mobilização recentemente por lá, para tentar diminuir a falta de políticas públicas neste cenário, liberando recursos para as instituições de ensino que invistam na questão indígena, mas, ainda engatinha-se nesse esforço.


Cartaz disposto em um ponto de ônibus de Toronto, bairro de North York - região norte da cidade, sobre um posto de alimentação público e a situação de seus moradores.

O país dos ursos e do maple, no entanto, tem algo mais de francês com seus protestos e greves, como também nas mobilizações sociais constantes. Pude vivenciar parte deste aspecto participando de uma marcha de meio milhão de estudantes, idosos, crianças, cachorros, pais e mães, rumo a uma singela praça para ouvirem o discurso ecológico da estudante sueca Greta Thunberg. Fui canalizado, dirigido sem chance de fuga no meio de um mar de gente gritando ao encontro da jovem estudante sueca, uma criança com um discurso plausível ao de uma criança, mas genuinamente emocionante, numa tarde em que a cidade de Montreal inteira parou: todas as escolas apoiando integralmente este momento.


Voltamos no dia seguinte ao interior das salas de aula. Nossa primeira visita a uma escola foi ao Humberside Collegiate Institute, em Toronto, no maior e mais diverso distrito de escolas públicas do Canadá, com 240.000 estudantes. Dirigidos à biblioteca, com cadeiras incríveis, nós fomos apresentados ao simpático Kim, que se declarou um imigrante de etnia chinesa e de nacionalidade canadense. São apenas 54% aqueles estudantes que falam inglês em casa, e mais de 120 línguas faladas por estudantes, assim representados:


• 26% of students identify as White

• 21% of students identify as South Asian

• 16% of students identify as East Asian

• 12% of students identify as Black

• 10% of students identify as Mixed

• 6% of students identify as Middle Eastern

• 6% of students identify as Southeast Asian

• 2% of students identify as Latin American

• 0.3% of students identify as Indigenous

Kim, do conselho de educação de Toronto. link: https://www.tdsb.on.ca/?nomo=1.


O Conselho de Educação do distrito de Toronto recebe 3 bilhões de dólares anuais para rodar as escolas. Kim disse que ainda assim é pouco dinheiro o que, pelas conversas seguintes com professoras de outras instituições, pareceu-me ser. O Canadá conta com uma rede grande de creches e pre-escolas (kindergartens) privada e possui uma bela rede de escolas públicas, mas que poderia ser ainda melhor de acordo aos usuários e professores, como tudo sempre pode.


A segunda escola que visitamos neste primeiro dia, a Arnette Primary School, é composta de alunos de quatro anos ao fundamental 2. Uma das professoras relatou que ela e suas companheiras compravam muitos livros com o dinheiro do próprio bolso, em sebos, para enriquecer suas salas de aula, e esperavam mais recursos digitais para a biblioteca da escola. A Arnette funciona em conjunto com uma escola alternativa (Park School), onde as crianças não necessariamente necessitam morar próximo a ela, pois o processo seletivo ocorre por um sistema de loteria para sorteio das vagas. Ao total, nas duas escolas, são 700 alunos para 70 funcionários. O currículo é complementado por diversas outras atividades: eco-escola, esportes, clube de justiça social, clube de artes, entre outras. Um total de 23 turmas, iniciando-se pelos grupos 4 e 5 da pré-escola, seguindo pelos alunos de 6 a 13 anos do primário.


Sobre a etapa da pré-escola, ou da educação infantil, meu foco de atenção, o grupo do foi apresentado aos seguintes documentos orientadores:


1- Sobre o brincar na educacao infantil: http://www.cmec.ca/Publications/Lists/Publications/Attachments/282/play-based-learning_statement_EN.pdf


2- Sobre o currículo da educação infantil (4-6 anos)

http://www.edu.gov.o.ca/eng/curriculum/elementary/kindergarten.htmln

Um fato que me impressionou foi o grau de maturidade dos alunos, de qualquer série, ao nos apresentar suas escolas. Um pouco desta formação que percebi e tento aqui formalizar em palavras, vai de encontro a um cotidiano de formação política e crítica, empenhada em criar sentido para as aulas e pode ser entendida abrindo-se o material do currículo, no qual está grifado, na primeira página, o seguinte texto:

“It is important for children to be connected to the curriculum, and to see themselves in what is taught, how it is taught, and how it applies to the world at large.”

Traduzindo:

“É importante que as crianças estejam conectadas ao currículo e se vejam no que é ensinado, como é ensinado e como isto se aplica ao mundo de uma forma ampla.”

Os professores explicam e situam os alunos no curso de suas intenções educativas a todo momento. Isso faz uma ENORME diferença na minha visão dos fatos. A comunicação humana, quando clara e objetiva, promove a evolução de nossas aptidões em menor tempo. Evoca-se com esta conduta uma maior maturidade nas pessoas, independente de sua idade. Existe, neste país, uma grande valorização do pensamento lógico-científico e da função da acadêmica de forma mais acentuada naquela sociedade.

Existe um documento chamado “ELECT” que fundamenta seis princípios básicos da educação infantil:


“1. Positive experiences in early childhood set the foundation for lifelong learning, behaviour, health, and well-being. 2. Partnerships with families and communities are essential. 3. Respect for diversity, equity, and inclusion is vital. 4. An intentional, planned program supports learning. 5. Play and inquiry are learning approaches that capitalize on children’s natural curiosity and exuberance. 6. Knowledgeable, responsive, and reflective educators are essential.”

Traduzindo:

“1. As experiências positivas na primeira infância estabelecem as bases para uma vida toda de aprendizado, comportamento, saúde e bem-estar.

2. Parcerias com famílias e comunidades são essenciais.

3. O respeito pela diversidade, equidade e inclusão é vital.

4. Um programa planejado intencional apoia o aprendizado.

5. Brincar e questionar são abordagens de aprendizado que capitalizam as crianças em suas curiosidade e exuberância naturais.

6. Educadores conhecedores, receptivos e reflexivos são essenciais.”

(Acesso em 02/10/2019. fonte: http://www.edu.gov.on.ca/childcare/ExcerptsFromELECT.pdf)

E quanto ao número de pessoal, recordo que as escolas públicas não aceitam crianças menores de 4 anos, e que sempre existe a ajuda de um ECE - educador para a primeira infância - nas salas que possuem mais de 16 alunos. Além deste profissional, há a presença de agentes sociais que recebem os alunos no período extraclasse das escolas. Não são todas as escolas que possuem esse serviço, que começa sempre antes das 9h, depois se dá durante o almoço, durando de 45’ a uma hora, e após as 15h30, quando as aulas acabam.

Acima, Fachada da Arnette Street School. Abaixo, uma demonstração de quantas nacionalidades podem habitar uma mesma sala de infantil:

As salas no ensino infantil possuem em média 23 alunos por turma, na faixa etária de 3,4 e 5 anos e apenas este ano a obrigatoriedade de estar matriculado em uma escola baixou dos 6 para os 4 anos de idade.

No país são comuns os “Day Care Centers”, pequenas creches privadas que, alocadas em salas comerciais ou casas, acolhem as crianças cujos pais necessitam trabalhar. Outra opção mais em conta e bem popular, consta em deixarem suas crianças para serem cuidadas por parentes, amigos e vizinhos que usualmente cobram por este favor.

Uma sala de um Daycare Center.

http://trustchildcare.ca/book-tour-trust-child-care/

As salas de aula costumam ser bastante carregadas no Canadá, pois elas são grandes, comparadas ao padrão médio brasileiro em tamanho e ocupação de seu mobiliário, repletas de informações e recursos. O clima extremamente frio é um dos motivos para este estilo de educação centrada em uma única sala e com espaços para atividades cobertos.


A professora possui uma base com computador bem montada em sua própria sala. Em um comentário pessoal, sinto um peso e até mesmo uma certa sensação de desordem e de acumulação ao comparar este ambiente ao ambiente brasileiro de salas de aula. O excesso pode ser bom ou ruim, dependendo da ótica de quem observa esses espaços.


Entendi um pouco sobre as legendas de gavetas e organizadores na reunião, e, conversando, compreendi que boa parte dos registros acumulados são de cunho prático e objetivo, ou seja, são usados com as próprias crianças para que elas entendam o progresso que estão realizando.


Coube a mim perguntar se aqui em “casa” entendemos esse aspecto crucial da autonomia infantil - ensinar aos alunos o que já foram ontem, como estão hoje e para onde queremos levá-los em termos de habilidades, competências, autonomia, crítica e criatividade. Às vezes, o não entendimento do registro enquanto ferramenta pedagógica ocasiona a sua não exploração da maneira adequada, ou a constatação de que não existirá nunca espaço suficiente para acumularmos “todo” o material produzido pelos alunos de forma burocrática e sem pragmatismo.


Sala de aula em ação: trabalhos secando, trabalhos organizados, registros, materiais, livros e informações para todo lado!

As abordagens pedagógicas explicitadas no currículo de Ontário baseiam-se (incluo aqui uma parte extraída do programa de educação infantil da província para uma breve análise) em:


“Relações responsivas - Evidências de pesquisas e práticas mostram que interações positivas entre professor e aluno são os mais importantes fatores na melhoria da aprendizagem (Hattie, 2008). Uma consciência de ser valorizado e respeitado - de ser visto como competente e capaz - pelo educador constrói o senso de identidade e pertencimento das crianças e contribui para o seu bem-estar, permitindo que elas se envolvam mais na aprendizagem e se sintam mais confortáveis em expressar seus pensamentos e ideias.


‹Aprender por meio da exploração, brincadeira e investigação - À medida que as crianças aprendem pela interação com um jogo e pela investigação, elas desenvolvem - e têm a oportunidade de praticar todos os dias - muitas das habilidades e competências que serão necessárias para prosperar no futuro, incluindo a capacidade de se envolver em solução de problemas de forma inovadora e complexa e de desenvolvimento de um pensamento crítico e criativo; trabalhar em colaboração com outras pessoas; e pegar o que é aprendido e aplicar em novas situações em um mundo em constante mudança. (Veja a seção “Fundamentos Princípios de Aprendizagem Baseada em Brincadeiras ”na seção a seguir, e no Capítulo 1.2, “Aprendizagem baseada em brincadeiras em uma cultura de investigação”.)


‹Educadores como co-alunos - Hoje, os educadores estão saindo do papel de “Conhecedor principal” ao de “aprendiz principal” (Katz & Dack, 2012, p. 46). Nesse papel, os educadores podem aprender mais sobre as crianças à medida que aprendem com eles e deles.


‹Ambiente como terceiro professor - O ambiente de aprendizagem compreende

não apenas o espaço físico e os materiais, mas também o ambiente social, a maneira pela qual o tempo, o espaço e os materiais são usados ​​e as maneiras pelas quais elementos como som e iluminação influenciam os sentidos.

(Veja o Capítulo 1.3, “O ambiente de aprendizagem”.)


‹Documentação pedagógica - O processo de coleta e análise, que tem por objetivo a "tornar o pensamento e a aprendizagem visíveis", fornece a base da avaliação para, como e do aprendizado.

(Veja o capítulo 1.4, "Avaliação e aprendizagem no jardim de infância: fazendo o pensamento das crianças e aprendizagem visível ”.)


‹Prática reflexiva e investigação colaborativa - Os educadores desenvolvem e expandem sua prática, refletindo de forma independente e com outros educadores, crianças e famílias das crianças sobre o crescimento e o aprendizado das crianças.


Sobre como incentivar a brincadeira e a investigação, o documento apresenta como exemplos de perguntas:


“USANDO PERGUNTAS PARA PROMOVER A INQUÉRITO E ESTENDER O PENSAMENTO


Em resposta às perguntas e ideias das crianças, os educadores colocam questões como:

• O que você acha?

• O que aconteceria se ...?

• Eu me pergunto por que sua medida é diferente da de Jasmine?

• Como você está levando água de um recipiente para outro?

• Como você pôde mostrar sua ideia?


•Como podemos descobrir se a sua ideia funciona?

• Gostaria de saber se poderíamos fazer nosso próprio mármore?


As crianças fazem perguntas que levam ao inquérito. Por exemplo:

• Como esse carro pode descer mais rapidamente a rampa?

• Onde estão as maiores poças?


As crianças comunicam ideias e fazem mais perguntas enquanto experimentam e investigam. Eles podem descrever os materiais que estão usando, indicar um problema que eles estão tendo, ou fazem uma pergunta como "Gostaria de saber o que aconteceria se eu ...?"


Eles começam a ouvir seus colegas e podem oferecer sugestões a eles. Por intermédio destas interações e à medida que os educadores ampliam o pensamento das crianças por meio de suas perguntas e observações, as crianças também aprendem a fazer previsões e tirar conclusões:


• "Acho que se usar um bloco maior no fundo, minha torre não quebrará. Veja

funcionou! Eu usei esse grande bloco e ela não caiu ".

• “Pensei que seriam necessários seis passos, mas foram necessários dez.”




Este gráfico retrata a interdependência de papéis de crianças e educadores na aprendizagem baseada em brincadeiras. Ele identifica as maneiras variadas nas quais crianças e educadores interagem e se empenham ao longo dos dias, mostrando seus papéis na co-construção do aprendizado.

Fonte do gráfico

:https://files.ontario.ca/books/edu_the_kindergarten_program_english_aoda_web_oct7.pdf . Acesso em 29/09/2019.


A estrutura de recursos humanos de uma escola canadense primária é bem enxuta e não por isso menos produtiva: consiste em uma diretora, uma vice diretora, e alguns poucos auxiliares administrativos na estrutura de toda escola que visitamos. Observamos a distribuição do material pedagógico, com a retirada de papéis de um caminhão para a entrega nas mãos de cada professora sendo realizado por alunos da escola, cada qual em uma função específica, de forma organizada e divertida.

Existem alguns professores (home teachers) que assumem funções de liderança (lead teachers). Estes professores, que são designados como lideranças, possuem uma especialização em algum tema específico, como alfabetização, ciências, tecnologia. Podem, ao mesmo tempo, assumir também a coordenação de determinadas faixas etárias dentro da escola - primary, junior, senior, como eles normalmente dividem as faixas dentro de um período educacional distinto. Eles (lead teachers) lideram encontros específicos dos professores de cada faixa etária ou tema de trabalho, atuando como nossos coordenadores e assessores aqui do Brasil. A diretora foi bem explícita ao mencionar que no Canadá as assessorias e as coordenações são buscadas no círculo mais próximo possível dentro das escolas. A coordenação realmente é um posto de trabalho que não existe por lá e em outras partes do mundo, onde os professores possuem uma formação de excelência. Há ainda uma bibliotecária-professora de línguas estrangeiras (as vezes tambem responsavel pela pate tecnoclogica da escola) e de diversos professores especialistas, abrangendo áreas como: educação física, música, língua estrangeira, entre outras aulas. O conceito de alta produtividade e de qualidade é associado ao de ser uma escola pequena. Posso dizer que senti a importância deste conceito algumas vezes nas falas dos diretores, pois existia no ar uma certa vergonha em se apresentar como uma escola com grande número de alunos, visto que o entendimento de ser pequeno (baixo número de alunos) e responsável (evoca o conceito de qualidade e de atenção individual) é um fator primordial para a qualidade do ensino na concepção canadense.

Os planejamentos são feitos mensalmente, e os diretores vivem dentro das salas de aula acompanhando os professores, ajudando sempre que necessário. Acredito que um pouco da frieza e profissionalismo que a cultura anglo saxônica denotam parecem facilitar uma permeabilidade maior entre os educadores, promovendo um melhor desempenho do conjunto, gerando uma diversidade de métodos e modelos, assumindo-se melhor a função do professor como autor, criador e pesquisador e compartilhador de seu processo educacional. O professor realmente dispõe de uma autonomia enorme pelo que nos foi apresentado. Exemplo disso ocorre em relação à escolha do ensino da letra cursiva, que, de acordo com a concepção de ser ensinada ou não, varia de professor para professor, não estando balizada pelo currículo da província em questão.


A pré-escola é baseada em atividades lúdicas, tematizadas na natureza e na curiosidade. Na escola Arnette, que é formada a partir de duas escolas em uma, possuía 150 alunos, com professores principais - home teacher e um professor de educação física, outro de música e outro de francês. A escola alternativa tem um tema anual e o desse ano foi o design para a sustentabilidade. Sua filosofia é baseada em 4 A’s:

Ser pequeno com responsabilidade.

Exploração científica / acadêmica.

Cidadania ativa.

Aventura.

A primeira fala da diretora foi que “...as escolas são maravilhosas por causa dos alunos, dos pais e dos professores”. A expectativa em relação aos alunos que saíam do sênior kindergarten é que eles tivessem alcançado um nível de literacia 6 e, ao final do 1 ano, de 16 (estes níveis podem ser melhor entendidos observando-se o currículo de Ontario na parte que se refere a métodos avaliativos).


O segundo objetivo é a matemática e o objetivo principal é a habilidade de resolver problemas. Eles estão integrados sempre com crianças de diferentes níveis, sem segregação. Depois, são separados em grupos diversos, cujos participantes estão em níveis diferentes de aprendizagem, para que, ao interagirem, ajudem uns aos outros. As aulas são inclusivas e em pequenos grupos. Para as crianças que realmente necessitam de suporte individual, este é dado, mas, de forma geral, a abordagem é inclusiva, misturando diferentes níveis.


" Nós fazemos isso, dando oportunidade de desenvolvimento para que os funcionários aprendam quando fazê-lo, e como fazê lo. Os professores e ECEs recebem problemas da vida real e estes são adaptados para serem apresentados desde o kindergarten. Você pode ver os alunos mais velhos resolvendo os problemas e, nesse quadro, desenvolvem:


1-pesquisa- aquisição de dados

2-gerenciamento de dados e probabilidade.

Avaliação: QEO programa de testes para entender, ao final do 3º ano, o nível da escola e dos alunos individualmente. A avaliação serve para entendermos o que falta o que falhou no caminho até ali.

Não existe diagnóstico, laudo, antes dos 6 anos de idade. Existe, sim, uma conversa muito séria e sensibilizadora com os pais, mas o rótulo-laudo-diagnóstico só acontece em casos muito raros e específicos na educação infantil. "

Perguntada sobre a integração da matemática num currículo transdisciplinar, a diretora explicita que ela, como também os regentes das disciplinas, adotam o termo e a metodologia transdisciplinar denominada - STEM - science, technology, Arts e Mathematics. Eles realizam uma noite STEM com os pais, trazendo-os para dentro da escola, a fim de fazerem atividades junto com as crianças.


Na escola Arnette Street, dentro da biblioteca, manifestou-se o desejo de se fazer um espaço maker. A profissional que lá trabalha há pouco tempo, descreve a biblioteca como um local chave para a integração de todos os alunos. Um HUB, mais do que uma biblioteca, é um local para o aprendizado do século XXI - livros são muito importantes, mas devemos incorporar tecnologias mais novas, que permitam aos alunos aprender independentemente, desenvolver o pensamento crítico e verificar a diversidade. Materiais devem ser interessantes e relevantes, como, por exemplo, o desejo de ter um centro de ipads, robôs, um centro tecnológico para a escola, um espaço flexível onde vários tipos de atividades possam ser feitos, como pesquisas, uso da tecnologia, trabalho em parceria com os professores, alunos individualmente sendo levados para desenvolver habilidades específicas. A jovem bibliotecária sabe bem o que quer: a sua energia e vontade contagiaram aqueles que estavam presentes na sala.


Existem limitações da Arnette por ser uma escola pública, devido questões orçamentárias, mas eles querem incluir um espaço virtual, com mídias sociais para divulgarem as novidades, livros novos, ou novo espaço, expandindo o acervo de material virtual e físico, além de criar-se o espaço maker, com oferta de blocos de lego a madeira, todo tipo de atividades, trabalhos manuais e criação de coisas. São 32 turmas e a bibliotecária quer fazer um acesso justo a todos. A biblioteca fica aberta sempre, até em finais de semana e após a escola fechar. Eventos variados para integrar as famílias à escola, com noites de contação de livros para crianças, etc.


PERGUNTAS E RESPOSTAS A ARNETTE STREET SCHOOL

Preparação-planejamento do professor: 300 minutos de ensino, 40 minutos de preparação. Sempre que houver um professor secundário em ação, abre-se essa janela para o planejamento.

O ensino das letras, o uso ou não da cursiva, o reconhecimento entre maiúsculas e minúsculas não fazem parte do currículo, não é uma matéria, porque os alunos não têm obrigatoriedade de cursiva. As minúsculas e maiúsculas são apresentadas juntas.


DanceMat - atividades para buscar as letras no teclado.

https://www.bbc.co.uk/bitesize/topics/zf2f9j6/articles/z3c6tfr

Não existe um livro texto base para todas as escolas e professores. Existe apenas um currículo que deve ser cumprido e diversas empresas fabricam materiais para cobri-lo. Existe a autonomia do professor de escolher como vai e com o que vai trabalhar o currículo. Vários caminhos prévios que foram traçados ao longo dos anos: a transdisciplinaridade, o uso de projetos, o respeito e o incentivo à pergunta da criança são fundamentais.


A atividade para casa dos alunos do infantil baseia-se sobre aquilo que ainda não foi cumprido em sala de aula, dependendo muito do professor. Não existe dever de casa pela obrigatoriedade, tem a ver sempre com atividades não concluídas em sala. Há, sim, muita leitura compartilhada com os pais, ebooks que facilitam a leitura, netflix de livros, e outros links oferecidos pela entrevistada:

https://www.pebblego.com/why-pebblego

https://www.tdsb.on.ca/library

https://www.toronto.ca/community-people/children-parenting/

https://www.tdsb.on.ca/EarlyYears/Road-to-Reading

https://www.scholastic.com

Para a linguagem da programação, existe o Scratch do MIT, um aplicativo gratuito, com grande gama de recursos e material de suporte online, comunidades e eventos, que funciona muito bem no ensino de linguagem da programação para crianças a partir de 5 anos (Scratch Junior):

https://medium.com/scratchteam-blog/10-things-to-try-right-now-with-your-child-on-scratch-and-scratchjr-defd7f8ad0d1


Ministério da Educação de Ontário

O Canadá é formado por diversas províncias, cada uma com grande autonomia. Quando digo isso, o faço no sentido de explicitar ao leitor a ausência de um Ministério da Educação de âmbito federal. O que se apresenta são diversas legislações e políticas estaduais díspares no mesmo país.


O único Ministério da Educação que visitamos foi o de Ontario, situado em sua capital, Toronto. Eu, como representante do COMEV - Conselho Municipal de Educação da cidade de Vitória, ES, senti-me em uma grande versão de nossa Secretaria de Educação, com explicações do pessoal de lá sobre como são feitas as fiscalizações nas escolas privadas, os documentos necessários para a abertura de novas escolas naquela província, exigências para a admissão de novos professores, treinamento continuado, entre outros assuntos pertinentes a conversa.


Ao sermos recebidos dentro do Ministério, a primeira palestrante nos informou que não existe mais interesse da província em outorgar escolas canadenses com o currículo de Ontário, ou seja, supervisionadas pelo Ministério desta província.



As escolas que foram estabelecidas no passado se mantém, mas novas não são mais criadas desde 2004.


Para as escolas que possuem muitos imigrantes não falantes da língua inglesa, existe um professor de inglês para alunos estrangeiros (inglês como segunda língua). O mesmo professor não existe na etapa da educação infantil - kindergarten, iniciando-se mais tarde, a partir do segundo ano do fundamental I para frente.


Não há professor de artes nas escolas fundamentais que visitamos. A explicação do Ministério é que os professores regentes podem se especializar em certos ramos das artes e dar assessoria na própria escola. Por exemplo, o que sabe mais de teatro ensina teatro para toda a escola, outro que se especializou em quadros e pinturas assume essa área como referência do lugar. Observamos que o professor regente assume todas as disciplinas (menos o francês) até o oitavo ano.


Sobre a formação dos professores, eles fazem um Bacharelado em Pedagogia e, depois, podem fazer - não sendo obrigatório - uma especialização em leitura, artes, o que for recomendado ou agradável para eles na maior parte das vezes, nos explicou o palestrante.


Abaixo, slides apresentando a formação de professores no Canadá. Os apresentadores afirmaram que já existem no país mais professores que vagas de emprego.


Os professores devem realizar a educação inicial para professores, depois entram no programa de indução de professores, no qual são acompanhados em seu primeiro ano letivo por mentores, que são professores mais experientes. Realizam, todo ano, seu plano de desenvolvimento continuado, pelo qual, matérias são indicadas e temas ou assuntos que desejam evoluir são sugeridos. Ao final do ano seguinte, o resultado de suas formações é apresentado. Os professores em formação são avaliados com uma prova e entrevistas de dois em dois anos ou quando o diretor da escola desejar. Se falham em dois testes destes, são exonerados.


Muitos professores trabalham yoga, meditação, dando às crianças métodos para se controlarem: a saúde, o bem-estar em todos os seus aspectos é um foco nesta formação atual dos professores. As escolas possuem quartos do silêncio, onde os alunos podem se refugiar e se concentrar nos momentos que queiram. Os professores também criam espaços aconchegantes dentro da sala, cuja finalidade é o relaxamento.


Escola de primária em Montreal


Escola da Universidade de Toronto


Após essa visita ao Ministério da Educação de Ontário, onde nos foi apresentado o sistema de educação da província de Toronto, seus métodos avaliativos, formação de professores, entre outros aspectos acima relacionados, seguimos para a visita à escola modelo da Universidade de Toronto.


A UTS encontrava-se em uma edificação provisória, aguardando que sua sede original recebesse as devidas reformas programadas. A escola da Universidade de Toronto foi uma iniciativa da Universidade, em 1910, para formar os professores das escolas secundárias da província. Ela se tornou, em 2004, uma instituição isolada da Universidade, com um conselho formado por pais, alunos e professores que escolhem seus diretores e supervisionam sua administração.


Deparei-me com, talvez, um dos climas mais fantásticos que já presenciei em uma escola. Existia ali uma energia e uma alegria vibrantes. A diretora e seu vice-diretor eram quase que personagens de um filme. Ela, com a fala pausada e um pequeno sorriso constante no rosto, e ele, com um lápis atrás da orelha, muita pró-atividade e conexão com todos a sua volta, irradiando entusiasmo e pragmatismo em suas colocações.



Ao fundo de vestido escuro a diretora e, ao seu lado, o vice-diretor.

O “elder” da escola - ou detentor do conhecimento ancestral indígena.

Em um determinado momento, a sala foi tomada por alunos das mais diferentes etnias, e recebemos um detentor da sabedoria indígena da escola, vestindo um simpatico coletinho e de óculos. Este senhor esbanjou simpatia, afirmando que aprendia mais do que ensinava. Foi explicado que este tipo de orientador fornece, junto com outros membros do staff da escola, seus conhecimentos para o desenvolvimento espiritual, emocional, assim como para assuntos como “sustentabilidade”, natureza local, e outros temas desenvolvidos na escola.


Ao entrar na escola, existe um dia inteiro de jogos e apresentações. Ainda, há uma divisão da escola entre três grupos, algo como no famoso filme Harry Potter, mas que eles fazem questão de sinalizar que a iniciativa surgiu antes do filme, nos anos 50. Existe, também, um sistema de adoção de calouros pelos veteranos, por afinidade.



O encontro foi rápido e o restante da visita se deu por meio de uma caminhada pelos corredores e escadas, repletos de aulas de música improvisadas em todos os cantos, grupos de alunos desenvolvendo autonomamente atividades, bem como muita tecnologia no ambiente, como impressoras 3D, computadores desktop e portáteis, ipads para todos os lados, e muita comunicação positiva nas paredes. Em nosso trajeto, os estudantes eram saudados com uma apresentação que envolvia seu perfil psicológico e suas criações (em apps ou objetos inovadores). Foi impressionante o grau de maturidade e de engajamento em projetos extraclasse por parte dos alunos.


A escola tem um espectro amplo de sucesso em seus ex-alunos, com um ganhador de um prêmio nobel, políticos, atores famosos, outros dedicados às ciências exatas e às biológicas, embaixadores e pioneiros em avanços tecnológicos.


Alguns projetos interessantes desta escola envolvem a arte como transformadora de comunidades mais carentes, incluindo a que a própria escola habita temporariamente, bem como ações de aproximação com um hospital psiquiátrico que amedrontava os pais e os alunos locais.


Ao final desta visita, deparamo-nos com a maior manifestação que já participei fora do Brasil. Meio milhão de pessoas marcharam até uma praça, onde a estudante sueca Greta Thunberg discursou.



Montreal - província de influência majoritariamente francesa.


Escola internacional - Global School Montreal

A escola Global School for Children possui:

24 salas de aula;

71 pessoas trabalhando;

5 são professores para alunos com necessidades especiais;

3 agentes de intervenção que trabalham com alunos com necessidades severas de aprendizado.

Eles possuem 14 supervisores para observarem o horário do almoço e os horários de assistência aos pais fora do horário de funcionamento da escola (9h às 15h30).

A equipe ainda é composta por psicólogos, profissionais de fonoaudiologia, animador espiritual - bem-estar dos alunos e professores.

No infantil, um professor ensina duas línguas, um dia em francês um dia em inglês. No primário 1 e 2 anos, o francês é falado em quase todo o tempo; às vezes, alguns especialistas usam o inglês, como Ed. Física, mas eles possuem as aulas em francês. Nos anos adjacentes, 3,4,5,6, existe um troca maluca de inglês e francês, dividindo o professor de inglês - na matemática e o de francês em artes, literatura, ciências, etc. Estes são os professores especialistas. Espanhol, uma vez por semana, Italiano é opcional.


Existem dois diretores, um principal, e um vice, o senhor Walter, que fica responsável pelos aspectos da assessoria IB dentro da escola. O IB é uma organização suíça fundada no pós-guerra, que promove alto padrão de educação internacional por meio de programas distintos para diferentes grupos etários e perfis de escolas.


https://www.ibo.org/programmes/primary-years-programme/

“O IB é uma organização que apóia escolas e professores para fornecer uma educação rigorosa e de alta qualidade, oferecendo desenvolvimento profissional que melhora a pedagogia e a liderança.”

As escolas que adotam o IB recebem um programa a ser seguido, no qual, a formação dos professores e a metodologia utilizadas são fornecidas por esta organização, criando altos padrões a serem alcançados em ambos níveis acadêmicos e pessoais. O programa é oferecido de 3 a 19 anos.

Nesta escola, presenciei alguns métodos pouco comuns aqui no Brasil, como, por exemplo:

Este tapumezinho, tipo cabine eleitoral, para atividades de ditado em salas do primeiro ano do primário.

Salas de aula na Global School em Montreal:

Acesso dos alunos a todo o material para a produção de atividades.


O bilinguismo existente no Quebec impressiona: no infantil, os professores dão aula um dia em francês e no outro em inglês.


Curiosidade: quem sabe se é uma exigência governamental, ou uma solução feita pela escola devido ao inverno rigoroso, e quem sabe se é para serem usadas molhadas num incêndio, o fato é que eles possuem um monte de mantas de emergência.


Em síntese, existe uma pátria bem mais fria que a nossa, onde várias partes do mundo se encontram atualmente. Parece que por lá a desigualdade social é menor assim como a percepção de uma estabilidade social-político-econômica maior.


A pobreza existe, mas sem chegar a um nível tão absurdo como o nosso. Como consolo, numa comparação infantil, me gabo internamente de morar num lugar mais quente em todos os sentidos, onde todos são mais risonhos e descontraídos, e isso, pessoalmente, me faz pensar em como deve ser a vida no Canadá para um imigrante latino. O fato é que o cidadão canadense, de forma genérica, é mais preocupado com a sociedade e se manifesta politicamente de forma muito forte. Pude sentir nas filas, no trânsito, no dia a dia, que suas intenções egoístas são melhor reguladas e coibidas e suas iniciativas favorecem a coletividade, muito melhor reconhecida desde a tenra infância, favorecendo as boas práticas que geram um aumento na qualidade de vida em todos.


Um país com baixíssima violência, um número absurdo de imigrantes, um excedente em sua população de professores (exceção para os da língua francesa), escolas com profissionais muito dedicados, avaliados constantemente. Como último detalhe, sinto existir um sentimento de pertencimento ao império britânico desde a sua colonização, com uma baixa miscigenação entre as etnias que se envolveram em sua história, ou seja, mesmo com a intensa imigração recente, ainda percebe-se um país cheio de mini-países, de bairros e de comunidades com menor “mistura-geral” que o nosso. As escolas privadas, ou surgem no início da vida, para bebês, ou se apresentam por motivos religiosos, étnicos, ou ainda se entendem como escolas internacionais. A qualidade do ensino público é muito boa.



Leonardo Costa Gomes Diretor na Uirandê Educação Infantil












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